Eu tenho um (talvez 2, don't judge me) aluno que consegue me tirar a paciência com facilidade. Ele me faz fazer uma das coisas que mais detesto no mundo todo: repetir. Note bem, como professora, maior parte da minha função é ensinar e repetir o que está sendo ensinado, eu sei disso. Em aula, não entendeu? Eu repito. E quantas vezes forem necessárias. Eu juro, repito com mó amor, sabe? Mas esse aluno, ah esse aluno, ele entende, sabe? Eu.sei.que.entende.

Eu-melhor-teacher-do-mundo-explicando-devargarzinho: kids, you have to get the paper, folder it (dobrado papel e mostrando como se faz) and write (escrevendo no ar) down what is on the board (aponta pro quadro), ok?

Eu-melhor-teacher-do-mundo-checando-compreensão: Fulano, can you explain what we supposed to do now?

Aluno-fulano-escolhido-aleatoriamente: é pra pegar esse papel que você vai dar, dobrar no meio e escrever aquilo lá que tá no quadro.

Eu- teacher-agradecida: Thanks!

Aluno dementador: Teacher, é pra pegar o papel dobrar no meio e escrever aquilo ali no quadro é? É? É teacher? É? hãmmmm?

Não há cristão que resista. Mas perceba, isso acontece umas 20 vezes por aula! O que tenho feito é pedido pra qualquer coleguinha repetir o comando e ele tem se dado por satisfeito. Mas não hoje, hoje não. Aluninho dementador jogou o papel no chão, ficou de bico, virou as costas quando eu falava, não ensaiou a peça, e me olhou de cara feia a aula inteira.

Eu não fiz nada até o final da aula. Daí quando ele já havia demostrado desgosto suficiente, eu usei minha técnica de vida com ele:

- Olha, aluno-dementador, quando você age desse jeito, eu me sinto tão triste, eu não queria me sentir assim... Você me ajuda não me sentir mais assim desse jeito triste? 

- Ajudo! 

- Poxa, brigada, você é mesmo um alunão!

Me deu beijo e foi sentar todo feliz!

Venci na vida.

Big kids

No início do ano, meus aluninhos de 1 anos e meio (agora já quase 3) mal sabiam português que dirá inglês!

Agora eu pergunto "why" eles respondem "por que".
Eu pergunto "Can I?" eles dizem "pode"!!!
Eu pergunto "who is that?" eles respondem "é Pedro's"

Mas aí vem a V, e com um lápis de cor na mão desenha qualquer coisa que imita uma assinatura:

- What is this, V?
- é um nome!
- Is it her name or your name?
- It's MY name!

Ou a A. Pergunto pra A, sem a menor intenção de estender uma conversa, apenas fazer small talk:

- What do you do when you arrive home?
- eu brinco.

E ainda tem gente que tem medo não acredita em educação bilíngue.

<3

Dentistas e saudades

Nas correrias pra viagem, umas das coisas a se fazer é um check up  na saúde. Antes de concluir o projeto você tem que mostrar laudo médico pra eles saberem se você é uma pessoa saudável e que você não vai morrer assim que sair do Brasil. 
Mas eu resolvi dar uma olhadinha nos dentes, saúde bocal, né? Já ensinei muito isso aos meus alunos nas aulas de ciência. Bom falar neles... meu dentista fica muito perto da minha faculdade e mais perto ainda da escolinha que eu trabalhava.
Pense na festa quando me viram?
Gritaram loucamente que até constrangeu a nova professora... Loucamente!
Foi muito bom rever minha queridas professoras e meus pequeninos, que já estão crescendo sem precisar pedir permissão a ninguém.
Eu vou sentir falta disso.


E pra vocês verem o que eu estou falando, esse é um dos meus alunos de 2010 cantando Justin Bieber,  bom, ou pelo menos tentando.


Ps: o áudio e a imagem estão péssimos, mas que tá fofinho, isso tá.

As crianças mais espertas da cidade

As meninas de 5 e 4 anos estavam desenhando num papel em branco.
Uma terceira, estava sentada ao meu lado enquanto tentava balbuciar palavras incompreensíveis. 
Ela não sabe falar: deficiência mental.


Uma delas, tentava sempre traduzir o que a garotinha sentada ao meu lado tentava dizer. Até que a "tradutora" disse para a outra menina:
- você consegue entender o que Laiane diz?
- consigo... (pinta, pinta pinta)
- ah, tá. achei que era só eu.


 ♥

Pedagogiando

Não era o que eu queria ser quando crescesse...

E eu consigo me lembrar o início de tudo... Eu acordava e sentia o pesa do mundo nas costas. Aí eu chorava.

Quando acabava de chorar, percebia que não havia nada que se podia fazer em relação àquilo, e caminhava até o ponto de ônibus e ia, dia após dia, assistir às aulas. 

Sim, ia pra faculdade depois de chorar logo pela manha... me sentia como se estivessem me mandando pro matadouro. Muito drama, eu sei, mas era assim que me sentia.

Até que um dia não era mais tão pesado, uma dia tive uma boa aula, um dia tive um bom professor, um dia foi diferente, um dia eu gostei, um dia me apaixonei. 

Ser pedagoga no nosso país é um desafio, um fardo, uma dádiva e tudo assim, na mesma sentença. Mas o nosso compromisso não tem de ser com o sistema, nem com o governo, nem com a  direção, nem com a falta de merenda, e sim com essas crianças que todos os dias só precisam provar pra elas mesmas o quanto são capazes, mesmo o mundo inteiro dizendo a elas que não são.

Não era o que eu queria ser quando crescesse, 

mas é o que eu sou, e o que me faz crescer.

A moça que leva o Jefinho e os irmãos dele pra casa veio reclamar comigo que ele não pega na mão dela na hora de atravessar a rua e disse que as vezes ele xinga e que quando ele xinga, de noite ele tem sonhos ruim:
 - Xingar? Porque você xinga, Jeferson?
 - Porque eu fico nervoso, pó
 - Mas fica nervoso com o que, meu Deus?
 - Porque eu fico nervoso...!
 - E aí, você tem pesadelos de noite...?
 - Eu pego no sono pofundo nem lembro o que eu sonhei, quando eu acordo eu nem lembro...






Quer dizer, a pessoa fica nervosa porque ficou nervosa, depois xinga, tem pesadelos, depois amnésia. 
Tá na cara que não vai ser normal.

Jefinho pegador

A aula acabou e eu fiquei sentada no pátio, porque eu ia ter aula pela tarde. Dai veio Jefinho e perguntou se eu  dava aula também de tarde.
- Pó você conhece Juliana que estuda aqui de tarde?
- Não conheço, não... porque? ela é sua namorada é?
E como seu eu tivesse descoberto a pedra filosofal ele me olha com espanto dizendo que sim e me conta a seguinte história:
 - Eu tava lá perto da casa dela, né? aí eu fiquei só encarando, encarando ela, aí ela pegou na minha mão e me levou pra casa dela e me beijou.
- É mesmo??? e quanto anos ela tem?
- 10
- Hum... 3 a mais que você..
- Mas isso, pó, aconteceu duas vezes. Aí na segunda a mãe dela viu e falou "já vai começar o namoro já..." foi, foi assim mesmo...






Geração perdida.

Potinho

Sabe o Jefinho? Pois é. 
Ele é um dos mais novinhos da sala e como já puderam perceber, ele é um poço de fofura ^^
Só que nesse dia ele se sentiu mal na sala, e colocou todo o café da manha pra fora...
Dai descemos pra direção e ficamos lá com ele, enquanto ele fazia aquela carinha de dorzinha do mundo todo.
Enquanto ele tava de cabeça baixa, a gente ia conversando com ele:


-Ai, Jefinho, você é tão fofo, mas tão fofo, que dá vontade de colocar você num potinho!
- Mas a senhora teria coragem de fazer isso mesmo... - com cara de espanto e medo
- hahahaha não Jeferson! quando se diz que se quer colocar alguém num potinho é porque que guardar a pessoa pra sempre junto com ela!
- aahhhh, mas não é de verdade não né pó?

 ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

Da alegria de ser inocente.
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Hipóteses

Do nada comecei a sentir cólica hoje. 
Eu já devia adivinhar , na verdade, porque eu tava mesmo muito melancólica esses dias... mas enfim
Eu tava bem no meio da aula quando a cólica começou, e como choveu o mundo hoje, foram poucos alunos.
Eu pedi compreensão das minhas crianças e sentei em frente a elas apertando levemente abaixo do umbigo.


- a pró tá com dor no umbigo (criança 1)
- é a chuva! (criança 2)
- Ah! já sei! você ficou apertada muito tempo, por isso ficou assim! (criança 3)
- é a lua, pró, é a lua... (criança 4)


Apesar de eu dar aula pela manhã, eu acho que ela pode até tá certa porque do jeito que as coisas andam....
tsc tsc tsc 


Alunos estranhos: sempre tive.
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A lua

Aula de ciências


- E o que se pode ver no ambiente natural apenas durante a noite, crianças ?

todos empolgados e ao mesmo tempo disseram:

- as estreeelas!!!! o escuro!!!! a luaaaaaa!!!

apenas Jam ficou cabisbaixo depois dessa pergunta:

- "a lua me persegui pró, eu posso pegar um ônibus, viajar, e a lua tá lá... ela me persegue o tempo todo..."

                                   ♥

Decidi deixar ele achar que a perseguição era apenas com ele, deixa ele inocente por mais algum tempo, ele vai sentir falta disso no futuro...

- Pró, porque seus olhos "tão" inchados?

(Eu queria dizer a ele que desde o final do mês passado eu tenho chorado todos os dias, que tudo que se planeja na vida não pode ser levado como um fato, queria dizer que lendo Caeiro ontem eu chorei até quase morrer, que de noite choveu, que senta aqui no meu colo e me empresta esses seus ombrinho miúdos e me aperta forte, que vem cá, não faz assim, não vai pra lá, meu coração vai se entregar a tempestade)

- É assim mesmo, Jefinho, é assim mesmo...

"Se mijando"

 Eu não deixo meus alunos irem ao banheiro durante as aulas,
apenas antes, no recreio, e claro, no final.
Talvez porque no meu primeiro dia de aula, pessoa sem nenhuma experiência,
passou a aula toda anotando e retirando, do quadro, o nome
de crianças que se julgavam às portas do inferno de tão apertadas que estavam.

As aulas acabaram, mas ai vai uma conversa que exemplifica

bem meu dia.

- Pró posso ir no banheiro?
- E o que é que eu vou ganhar com isso? vou ficar mais rica?
- Não [risos]
- Mais bonita?
- Deixa pró, tou si mijando...
- "me mijando", se diz, tou ME mijando...
- é, é, tou me mijando..
- Mas se eu não vou ganhar dinheiro algum deixando você ir ao banheiro,
então não vou deixar você ir...
- Ah, pró... mas professor não tem que ganhar dinheiro hora nenhuma!

Tá bom pra você?

Mestres do Entretenimento

- Dilma ganhou, velho.

- Meu pai votou em Dilma

- Dilma é sapatão!

- As cariocas é massa!

- As cariocas é baixaria pura, meu filho!

- Você assistiu “a vingativa do Méier?” eu ri demais! A vingativa do méier...

- Você assistiu a órfã? O final a mulé da um chute na cabeça da outra! Powww a cabeça chega vira assim, ó, assim ó, maluco

-Você assistiu aquela novela que tem João de Deus? Aquela ...qual o nome...?

-Canavial da Paixão?

-ééééééééééé

Esses são meu alunos, pós feriadão, em papos múltiplos sobre televisão e entretenimento. Falam como gente grande. Cada uma dessas frases foram ditas simultaneamente, numa conversa de “como foi seu feriadão.”

Falam com a propriedade de um critico de tv, dá até medo. Eu lá sei que Canavial de Paixões passa na tv? E quem diabos é João de Deus?

Agora pergunto, eles n deveriam ter dito que jogaram bola, vídeo game, foi a praia, bateu no irmãozinho, sei lá apanhou da mãe...

Eu hein...

Na escola de tv que você estudava, meu bem, ele são doutores...

Vida na Escolinha 1

Bom, como alguns de vocês já sabem
eu sou professora de uma Escolinha municipal num bairro "barra pesada" de Salvador...

Então sempre, aqui e ali, vou ter historinhas dessas minhas crianças,
por que trabalhar com elas é uma dor e uma delicia.

Dai, hoje encerramos as atividades escolares mais cedo
por que choveu, minha sala tava uma piscina,
e os meninos, claro, não levaram roupa de banho.

Acho até que vou omitir a parte de que tinha policia na porta da escola, coisa e tal´s...

Enfim, algumas mães não sabia que ia soltar mais cedo
e me veio dois dos meu alunos:
- Pró liga pra minha mãe vim buscar a gente, se n ela só vem cinco horas
- Liga pra minha também pró...
-Vocês tem o numero delas ai, pra eu n ter que ir pegar a ficha?

os dois tinham, vieram alegrinhos saltitantes com os numeros nas mãos,
então o aluno pequeno 1 olha pro aluno pequeno 2
- Bruninho, liga só pra minha mãe que ela tem guarda chuva...

é por essa e outras que eu não odeio a educação...

Sem mais por hora.