Quando eu tinha 12 anos, eu fui para um mini hotel com a minha família passar um feriado desses qualquer. O local era bem bonito e minha mãe sempre levava um bocado de lanches já prontos e gostosos pra a gente aproveitar bem o passeio sem se preocupar com muita coisa. Eu e meus irmão passamos o dia inteiro na piscina desse hotel. O que ninguém sabia era que também passei o dia inteiro sentindo dor na barriga. Como toda criança que não tinha piscina em casa, entrei na piscina e só saia de lá ou para ir ao banheiro ou para beliscar algumas das guloseimas que mamãe havia trazido. No dia seguinte, já em casa, veio a menarca. Descobri que a dor que senti durante todo o dia anterior, era na verdade cólica. E tem sido assim, desde os meus 12 anos e em todos os meses.
Na sétima série, meu pai deve ter ido me buscar na escola todos os meses do ano letivo. Deve ter sido. Eu sabia que iria sentir a dor, mas eu não podia faltar aula por conta de algo que ainda não havia acontecido. "Se você sentir dor, eu te pego. Mas agora, se arrume e vamos pra aula". No colegial, aconteceu mais ou menos o mesmo, a diferença era que eu já podia escolher se iria ou não iria à aula. Além do mais, nem sempre tinha pai disponível para me levar para casa. E eu sempre escolhia ir. Eu ia para o colégio sabendo que iria sentir dor, mas eu tinha esperanças que talvez eu pudesse suportar aquele mês. Não podia. Voltava pra casa andando bem devagarzinho, com medo de a dor se espalhar por todo corpo.
Houve apenas um único mês em todo esse tempo em que eu não tive essa dor. Eu devia ter uns 16 anos. A cólica foi substituída por uma dor nas costas. Mamãe chamou aquilo de 'dor nas cadeiras'. Eu adorei aquele mês em que não tive cólica. Me senti chiq, sabe. Achava chiq ter 'dor nas cadeiras'. Eu andava e era uma dor fina que meu corpo sentia de acordo com meus movimentos, ou quando levantava de onde estava sentada. Era uma dor prazerosa. Depois daquele mês, voltei a sentir cólicas novamente.
Minha mãe me disse que quando ela era mais nova, ela ia parar em pronto-socorro, ficava amarela, desmaiava, um horror. E eu sempre pensava comigo mesma em como seria quando eu arrumasse um emprego. Será que meu chefe iria me liberar pelo menos uma vez por mês por conta dessa dor que me atormentava? E de um tudo eu já tentei para parar de sentir isso. Houve um tempo em que eu tomava um comprimido depois do banho, tirava um cochilo e acordada boa. Era quase um ritual. Depois parou de funcionar. Me lembro de tomar 3 pírulas de uma só vez e nada. Cheguei no fundo do poço quando pedi murrinhos no pé na barriga ao meu cunhado. Ô vida.
Não acho que ninguém se acostuma com a dor. Nenhum ser humano gosta de sentir dor. Ah, vem cá dor-amada, quanto tempo tem que você não aparece, vem tomar uma xícara de chá aqui comigo. Não, não é assim. Acho que a gente se prepara para ela. A gente se adéqua para quando ela chegar. A gente aprende a conviver. Porque dor nunca vai ser algo normal ou natural. Nunca vai ser recebida com festas e balões.
Hoje eu sei exatamente quando vou sentir dor. Eu sei que vou sentir e por isso aguardo. Tenho os remédios sempre à mão: são para efeito psicológico porque na prática eles não ajudam lá muito. O meu horário é reajustado para que eu fique o máximo de tempo paradinha, por que ainda hoje eu acho que a dor vai invadir todo meu corpo. Me organizo. Eu me ajeito e aguardo. E a dor vem. A dor sempre vem.
Minha esposa toma um remédio que alivia a dor mensal tb... :D
ResponderExcluirO homem no maximo dá blue bolls (Google it)
:P
E vai... a dor também vai... Ainda bem!
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