terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A carona

Nunca o havia visto. Ele bateu na janela do carro enquanto eu colocava o cinto, e isso me assustou. Por apenas um segundo, mas me assustou. Eram 7:45 da manhã e perguntou se eu iria subir ou descer a ladeira logo mais à frente. Eu iria descer e ele iria subir, mas resolvi desviar meu caminho e responder ao seu pedido de carona.




Ele tinha 89 anos, me contou um pouco da sua vida e se desculpou pelo pedido de carona, mas é que já tinha muita idade. Era tão velhinho e magro que enquanto colocava o cinto, pensei que fosse quebrar de alguma maneira. Dividiu comigo a angústia que era viver sozinho numa casa junto à esposa com Alzheimer. Sua esposa esquecia sempre de tudo e era muito difícil cuidar dela. Contou-me como outro dia ela o havia ameaçado de larga-lo e colocar outro homem em seu lugar. Ele riu. Eu ri. Mas seu riso era frouxo, solto, perdido e entendi logo que naquilo nada havia de engraçado. Parei o carro bem em frente à farmácia, ainda fechada,  onde ele disse que queria ficar, ele muito me agradeceu, me deu bom dia e me chamou de anjo.


Doce velhinho, mal sabia que o anjo era ele mesmo. 

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