quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Eu trabalho numa escola bilíngue. Não é permitido falar em português com as crianças ( ou na frente delas) de maneira alguma. Se pediu pra ir ao banheiro? Ah, ok I'll go with you, it's right over there. Se a criança já tem a fala desenvolvida e já fala fluentemente o português, foda-se, você só responde em inglês. Se encontrou a criança no shopping, Hello how are you. Se o pai tá segurando a mãozinha da criança e ele perguntou que horas será a aula amanhã, Starts at seven forty five and finishes at eleven forty five. E assim, vai.

Melhor coisa do mundo é passar o dia com a mini aluna que aparentou ter gostado muito de você e na hora de dar tchau ela virar pra mãe e dizer " ah, mãe, eu gosto daqui, eu só não entendo nada do que a Miss Maeve fala."

<3

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Spoiler de um livro que não lembro o nome

Eu li muito a Agatha Christie quando era adolescente. Tipo, muito. Sherlock Holmes só passou mesmo pelas minhas mãos acho que uma ou duas vezes. Eu nunca vou me esquecer como eu devorava aqueles livros pra poder desvendar os mistérios e saber quem era o assassino. Desvendar, coisa nenhuma, porque ninguém desvenda nada do que se passa na mente daquela mulher.

Me lembro o final de um livro - que não recordo o título - quando tudo já haviam sido revelado. O que faltava era saber o como. A vítima era uma senhorinha. Coisa mais deselegante matar velhinhas, mas enfimEla foi encontrada morta. Simples assim. Não havia sangue, ou furo de bala, ou fechadura forçada, ou sinais de violação de sua integridade, ou marca de facada. Nada. E foi descartada a possibilidade de morte por causas naturais porque os assassinatos eram em série e ela preenchia os requisitos do matador. Mas, então, como?


O Spoiler:

O assassino tomou cuidado de saber o livro que a vítima estava lendo e tratou de colocar veneno na parte inferior direita de cada folha, para que ela morresse aos pouquinhos à cada lambida nos dedos que fazia ao virar as páginas.


Hoje, toda vez que alguém usa os dedos molhados com saliva pra virar uma página, eu instantaneamente penso: vaimorrer.vaimorrer.vaimorrer.vaimorrer.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

No início, meu pai achava que eu estava iludindo o rapaz. Que eu era o coração gelado dos ursinhos carinhosos, o tipo de pessoa que vê uma serenata pela janela e joga água nos envolvidos.

Depois, não contente com minhas não-respostas, passou a perguntar, com certa insistência, quem estava amando mais, como estava meu coração, ou se eu não estava apaixonada àquela altura do campeonato. 

Um dia me cansei e respondi aquilo que ele tanto queria escutar - e olha que era tudo verdade.

Passado isso, não há um só dia em que meu pai não pergunte - todo feliz - como é estar "completamente apaixonada". 


domingo, 5 de janeiro de 2014

Quando ele chegou depois de ter passado o dia quase todo sem me ver, encostou na  porta e gritou, ao invés de meu nome, uma expressão comum a casais apaixonados mas que ninguém nunca havia usado comigo. Minha espinha congelou no mesmo minuto.

Logo mais a noite, já pronta pra dormir com meu pijaminha que tem impresso " Miss always right" na parte de cima, ele me disse outra coisa muito bonita que só em filme eu havia ouvido. E eu prendi a respiração.

Essas reações têm sido constantes por aqui.

=)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Anos

Nessa volta pra casa eu precisei encontrar muita coisa perdida que deixei pra trás. Depois que me mudei, minha mãe rearrumou minhas coisas e minha irmã tomou meu guarda-roupa. Tudo bem. Hoje encontrei um classificador muito antigo. Ganhei ele em 2009 e enchia de coisinhas que gostava de fazer naquela época. Coisas como desenhos bem feinhos, boletim de alfabetização, poesias com rimas sofríveis e textos que me encatavam. O tempo foi passado e acrescentei nesse classificador uma outra porções de coisas que o tempo me dava. Entre eles, cada boletim de desempenho dos vestibulares que nunca passei. Eu lembro de guardar para analisar exatamente onde deveria melhorar. 














Enfim.

Outra coisa que guardei foi uma carta que tinha na capa "abrir em 2012". Antes de ler, eu sabia do que se tratava. Foi numa aula. Na ultima aula de português do cursinho do ano de 2006. O professor, o melhor de língua portuguesa que já tive, pediu para que escrevêssemos uma carta futurística para nós mesmos. Ele pediu que projetássemos o tempo do curso que prestaríamos vestibular e escrevesse como se nós já estivéssemos ao final daquele curso. Como o curso que eu queria tinha 5 anos de duração, então eu só poderia abrir e reler a carta em 2012. Mas em 2012 eu não morava aqui. Essa carta ficou esquecida até hoje.


Enfim 2.

Minha carta tinha um teor de raiva muito grande. Não sei exatamente com quem eu estava irritada. Talvez comigo mesma, não sei. Eu disse que estaria formada por uma Universidade na qual não me formei, disse que teria uma profissão que não tenho hoje. Disse algo sobre dar tapa na cara de algumas pessoas [?], e ainda parafraseei um versículo bíblico que não faço ideia do que eu quis dizer naquela época.

Enfim 437 3.

Tudo isso pra dizer como a vida nos reservas coisa que a gente é incapaz de imaginar. Meus boletins de desempenho não significam nada para mim. Eles não me dizem quem sou. Meus desenhos continuam ruim, mas descobri que nem gosto assim de desenhar. Minhas poesias hoje não rimam mais. Tirar 6,5 em ciências na segunda unidade no meu boletim da alfabetização não me representa.

2014 começa lindo. O percurso até aqui foi lindo. 

Chapada Diamantina, alguns dias atrás.

Ah, parei de escrever cartas futuristas, a vida vai dar mesmo um milhão de voltas, né?