sexta-feira, 24 de maio de 2013

Época de faculdade

De frente com uma professora carrasca que estava dando as notas e os pareceres individualmente para todo os alunos no final do semestre:

- É... Seu caso está complicado. Você fez apenas 7 das 18 atividades que eu passei.
- É pró, eu sei. Tô passando por uma fase muito difícil. Acabei de terminar um namoro, nem sei como consegui terminar esse semestre...
- Quanto tempo durou? -perguntou ela bem interessada
- Quase 3 anos.
- Bom, imagina no meu caso que foram quase 20...


O coração partido da professora me fez passar com 7 naquela disciplina.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A Casa das Sete Mulheres

Me lembro quando assisti ao primeiro capítulo da mini-série A Casa das Sete Mulheres. Apesar de não temos o costume de ficar acordadas até muito tarde, eu e minha irmã, fomos pegas pelas chamadas durante toda aquela segunda feira. O primeiro episódio começou. Se passa no Sul do Brasil. A gente já tinha ido visitar aquele estado que ambientava a mini-série. Eu me lembro que foi o melhor primeiro episódio do mundo. Bom, pelo menos parecia, agora que olho pra trás e quase vejo a gente gritando como loucas. Nós gritávamos por que foi tudo muito emocionante. Cenas rápidas e bem feitas, muita aventura, romance, drama, mortes, e tudo assim, num capítulo só. A gente gritou muito quando o Thiago Fragoso, montando num cavalo, salvou a Mariana Ximenes de algum perigo. Bom, pelo menos é assim que minha memória guarda. Eu e minha irmã batíamos palmas, gritávamos, e quase pulamos da cadeira nos momentos mais emocionantes. Tudo lindo.

A mini-série não seguiu sendo tão boa quanto aquele primeiro capítulo e nem isso importa muito à minha narrativa. Mas de algo que me lembro bem é da Camila Morgado. Acho que foi o primeiro papel dela na TV, não sei. Não tenho memórias delas antes disso. Eu, desde aquela mini-série, achei ela uma atriz incrível. Mas isso também não vem ao caso.

A Camila Morgado se apaixona pelo Thiago Lacerda, o Garibaldi. Ela moça jovem, cheia de sonhos, quer namorar, noivar, fazer o enxoval de renda, casar e ter uma porção de filhinhos. Ele, homem da guerra, também se apaixona por ela. Os dois vivem um romance bem puro durante um curto período de tempo. Ao menos eu gosto de lembrar assim. 

Garibaldi tem de ir pra guerra, tem de lutar, mudar o mundo com a revolução, aquela coisa. Eu lembro de uma cena com ele tentando ensinar a Manuela - Camila Morgado - como segurar uma arma e a atirar. Ela se assusta com o som alto da arma e numa atuação até bem feinha, dá uma rodopiada e cai nos braços do Thiago Lacerda e os dois riem bastante. 
Ele percebe que Manuela é muito doce e muito menina ainda pra ir para a guerra, e ele não permite que ela o acompanhe. Entre lágrimas e promessas de eu volto pra te encontrar, Garibaldi vai pra guerra deixando a linda Manuela em casa com aquele monte de irmã e parente que ela tinha.

Muito muito tempo se passa, não lembro quanto. Mas o que eu lembro bem é dos olhos da Camila Morgado se enchendo de lágrima. Aquele tipo de lágrima que o ator não faz nenhum esforço pra cair. Aquela lágrima que aparece do nada. Aquela que cai no meio do olho, não nos cantos. Gosto desse tipo de lágrima. A Carolina Ferraz também sabe fazer muito bem. Então, a Camila chorou algumas lágrimas como aquela porque ela sentiu de alguma maneira que algo havia acontecido. O diálogo foi mais ou menos assim:

- Por que choras, Manuela?
- Ele está longe...
- Mas é claro que está, sua boba (risos)! Ele viajou há tantos meses é claro que ele está muito longe!
- Não... o coração dele é que está longe....

A próxima cena é Garibaldi acabando de conhecer a Anita e os dois rindo por alguma bobagem.

O.coração.dele.é.que.tá.longe.

Posso até parecer meio boba quando você olha pra mim pela primeira vez, mas não sou não. Assim como a Manuela, eu sei sentir coisas mesmo de longe. Eu sei quando o coração de alguém se afasta. Eu posso nem falar nada. Mas eu sei.

domingo, 19 de maio de 2013

Festas de despedida


Estou morando aqui nos Estados Unidos há um ano. É, passou rápido, quase nem vi. 

Mentira. Vi tudo.

Eu estou bem, está tudo muito bem. Não tenho muitos motivos para reclamar, a não ser que... Eu não tenho mais nenhuma amiga aqui que eu conheci a um ano atrás. Essa é de longe a coisa que mais me entristece. Eu conto nos dedos de uma mão só os amigos americanos que eu fiz, todos os outros são intercambistas como eu, que cedo ou tarde terão de voltar pros seus devidos países.

Na sexta-feira eu fui pra mais uma festa de despedida. Mais uma. Tô ficando bem cansada disso. Tinha uma banda bem legal tocando. As músicas eram populares nas rádios e eu dancei e cantei todas elas. Todo mundo estava muito bem vestido, maquiado e cheiroso. Uma amiga anotou o telefone dela em um guardanapo e deu pro vocalista da banda depois que eles flertarem quase o show inteiro. Tiramos muitas fotos. O produtor da banda também tirou muitas fotos nossas. Deve está exposta em algum website da banda nesse exato momento. Mas era uma festa de despedida. Era uma festa de despedida. Alguém comprou uma bandeira dos Estados Unidos no Walmart e levou para que todos assinassem e escrevessem coisas fofas para a garota que partia. Eu fui a primeira a escrever. Não escolhi, simplesmente me deram. Eu escrevi uma bíblia. Entre as cores vermelha e branca da bandeira americana, eu usei toda uma linha branca só pra mim. Eu fiz carinha de triste no último abraço que ela me deu, mas bastou que eu a visse desaparecendo pela porta da boate que me dei conta que eu não tenho a menor previsão de quando a verei novamente. Eu não sei quando irei a Paris.  Ela não tem planos de ir ao Brasil. Chorei compulsivamente. Recebi um abraço em grupo e um abraço dentro abraço de quase 15 minutos. Fiquei lá, pensando nessas despedidas que a vida me reservou.


No dia seguinte já havia outra festa agendada, um jantar. Outra festa de despedida. Aceitei no meu coração enquanto saía do banho que eu não repetiria a cena da noite anterior. Que eu iria aproveitar o máximo de tempo com a pessoa que estava partindo e fingir que estava tudo bem com o fato de mais alguém que tanto gosto estar indo embora.
Arrumei meus cabelos, minha maquiagem demorou 30 minutos pra ficar pronta, vesti meu vestido tubinho floral curto e com bolsinhos, calcei meu salto de frente arredondada e lacinho marrom, vesti meu melhor sorriso e saí de casa. 

Falei com todas as pessoas que estavam no bar aquela noite. Todas elas falaram comigo. Falei sobre a copa do mundo, as olimpíadas, sobre a Dilma, sobre baseball, sobre o american way of life, sobre ser professora, sobre sotaques, sobre comportamento feminino ao redor do mundo e sobre uma porção de outras coias que não vou lembrar agora.  As amigas brasileiras ensinaram  para as amigas estrangeiras a expressão "me dá esse mel" e foi bem engraçado ver todas elas me tocando enquanto perguntavam where was my honey.

Foi divertido. Foi leve. Era uma festa de despedida, mas estava permitido ser feliz. 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Papo de menina

Quando eu tinha 12 anos, eu fui para um mini hotel com a minha família passar um feriado desses qualquer. O local era bem bonito e minha mãe sempre levava um bocado de lanches já prontos e gostosos pra a gente aproveitar bem o passeio sem se preocupar com muita coisa. Eu e meus irmão passamos o dia inteiro na piscina desse hotel. O que ninguém sabia era que também passei o dia inteiro sentindo dor na barriga. Como toda criança que não tinha piscina em casa, entrei na piscina e só saia de lá ou para ir ao banheiro ou para beliscar algumas das guloseimas que mamãe havia trazido. No dia seguinte, já em casa, veio a menarca. Descobri que a dor que senti durante todo o dia anterior, era na verdade cólica. E tem sido assim, desde os meus 12 anos e em todos os meses.

Na sétima série, meu pai deve ter ido me buscar na escola todos os meses do ano letivo. Deve ter sido. Eu sabia que iria sentir a dor, mas eu não podia faltar aula por conta de algo que ainda não havia acontecido. "Se você sentir dor, eu te pego. Mas agora, se arrume e vamos pra aula". No colegial, aconteceu mais ou menos o mesmo, a diferença era que eu já podia escolher se iria ou não iria à aula. Além do mais, nem sempre tinha pai disponível para me levar para casa. E eu sempre escolhia ir. Eu ia para o colégio sabendo que iria sentir dor, mas eu tinha esperanças que talvez eu pudesse suportar aquele mês. Não podia. Voltava pra casa andando bem devagarzinho, com medo de a dor se espalhar por todo corpo. 

Houve apenas um único mês em todo esse tempo em que eu não tive essa dor. Eu devia ter uns 16 anos. A cólica foi substituída por uma dor nas costas. Mamãe chamou aquilo de 'dor nas cadeiras'. Eu adorei aquele mês em que não tive cólica. Me senti chiq, sabe. Achava chiq ter 'dor nas cadeiras'. Eu andava e era uma dor fina que meu corpo sentia de acordo com meus movimentos, ou quando levantava de onde estava sentada. Era uma dor prazerosa. Depois daquele mês, voltei a sentir cólicas novamente.

Minha mãe me disse que quando ela era mais nova, ela ia parar em pronto-socorro, ficava amarela, desmaiava, um horror. E eu sempre pensava comigo mesma em como seria quando eu arrumasse um emprego. Será que meu chefe iria me liberar pelo menos uma vez por mês por conta dessa dor que me atormentava? E de um tudo eu já tentei para parar de sentir isso. Houve um tempo em que eu tomava um comprimido depois do banho, tirava um cochilo e acordada boa. Era quase um ritual. Depois parou de funcionar. Me lembro de tomar 3 pírulas de uma só vez e nada. Cheguei no fundo do poço quando pedi murrinhos no pé na barriga ao meu cunhado. Ô vida.

Não acho que ninguém se acostuma com a dor. Nenhum ser humano gosta de sentir dor. Ah, vem cá dor-amada, quanto tempo tem que você não aparece, vem tomar uma xícara de chá aqui comigo. Não, não é assim. Acho que a gente se prepara para ela. A gente se adéqua para quando ela chegar. A gente aprende a conviver. Porque dor nunca vai ser algo normal ou natural. Nunca vai ser recebida com festas e balões.

Hoje eu sei exatamente quando vou sentir dor. Eu sei que vou sentir e por isso aguardo. Tenho os remédios sempre à mão: são para efeito psicológico porque na prática eles não ajudam lá muito. O meu horário é reajustado para que eu fique o máximo de tempo paradinha, por que ainda hoje eu acho que a dor vai invadir todo meu corpo. Me organizo. Eu me ajeito e aguardo. E a dor vem. A dor sempre vem.