sábado, 3 de setembro de 2016

Assalto, dia dos pais e capitalismo

No último dia dos pais eu fui assaltada pela primeira vez. Demorei um tempo para falar sobre isso. Foi rápido, normalmente é. Eu estava com o Hélio. Ele não gritou conosco, não machucou ninguém, saiu de um carro, levou nossas coisas e foi embora. Quase não deu tempo de sentir medo.

O medo veio depois. E se...?

No dia seguinte, no único momento em que fiquei sozinha, chorei. Ainda estava assustada. Com medo. Com e se's na cabeça. Mas Hélio escreveu algo muito profundo que merece ser reservado aqui:

Sobre ser assaltado, dias dos pais e uma sociedade regida pelo capital...
Fui assaltado ontem. Estava do lado da mulher que eu amo (Maeve). Era 15:30. Saia do almoço do dia dos pais na casa de minha mãe ( que também é meu pai)
O cara saiu do carro, que tinha mais gente lá dentro e apontou a arma pedindo o celular e a carteira. Demos o celular e a carteira. Eles foram embora.

5 segundos e uma síntese do capital. O dinheiro vale mais do que as vidas. O capital, como sujeito sem sujeito, submete o nosso caminhar e as nossas subjetividades. Troca vidas por mercadorias
O que esses ladrões queriam eram fazer parte dessa humanidade tosca que define a sua vida pela carteira e o celular.
O Odio que me tomou não é sobre o sujeito. Não vociferei o discurso de odio querendo que ele morresse. Não afirmei, bandido bom é bandido morto. Não desejei que o pai dele chorasse no dia dos pais ao invés do meu. Justiça não é vingança. E disso eu não tenho nenhuma dúvida
A minha parte ideologicamente burguesa odiou perder o celular, a carteira e ter minha propriedade levada. Mas, minha parte revolucionária agradeceu a humanidade presente naquele rapaz que não atirou e essa mesma parte ficou cheia de odio por vivermos nesse sistema que torna as coisas mais importantes que as pessoas. Esse sistema precisa ser derrubado e isso precisa ser feito com o resto de humanidade que ainda existe em todos nós, inclusive com a humanidade do cara que não atirou.
Hoje eu fico com minha parte revolucionária! Hoje eu fico feliz em ainda ser humano. Mas, até quando? Até quando restará humanidade em todos nós? Não sei se estarei vivo até lá. Celebremos a vida e o amor. Ataquemos o inimigo certo. Rompamos com a estrutura de classe!


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