quarta-feira, 29 de junho de 2016

Sobre nossos pés

Quando eu era pequena, o chão de taco do apartamento em que eu morava, constantemente se soltava e vez por outra machucava um ou outro membro da família. Meu pai, então, na tentativa de proteger-nos - a mim e meus irmãos - do chão maldito, baixou uma norma de que não poderíamos mais andar descalços pela casa, e para se certificar de que isso realmente aconteceria, todas as vezes em que ele nos via sem sandálias ele pisava em nossos pés.

Por razões óbvias, me acostumei a estar sempre calçada.

Hoje, na casa do meu noivo, na qual passo muito tempo, mas em que me recuso a morar ainda, nunca tenho sandálias: uso as deles. Ele, por sua vez, nunca as usa. 

Nos dias em que estou lá, elejo uma das sandálias enormes dele como sendo minha para aquele dia. Meus pés pequenos sambam em um chinelo que obviamente não foi feito para mim e que mesmo assim, por alguma razão, me sinto confortável e segura.

Enquanto estou sentada no sofá, ele vem falante-falante e calça as minhas-suas sandálias. E anda com elas, conversa e gesticula - muito - até finalmente sentar-se. Então, assim que percebo caminho livre, corro até onde ele inconscientemente tirou novamente dos pés as minhas-suas sandálias e as coloco novamente em meus pés. 


E passamos o dia todo assim. 

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